Negociações climáticas versus atitudes empresariais rumo a uma economia de baixo carbono

Por Paula Scheidt*

O ar frio de Copenhague do final do ano passado parece ter acompanhado a atmosfera das negociações climáticas no decorrer de 2010. Da Europa para a América, os representantes de 194 países que participam da Convenção Quadro de Mudanças do Clima das Nações Unidas desembarcaram na última semana em Cancún para uma nova rodada de reuniões que, desde o início, tem baixas expectativas.

As reações dos ecossistemas ao excesso de gases do efeito estufa acumulados na atmosfera do planeta, contudo, tem um ritmo próprio e, por sinal, muito mais acelerado do que o da esfera política mundial. Ciclones e pesadas chuvas que assolaram o Paquistão, secas mais intensas que vem atingindo as comunidades indígenas da Colômbia e o aumento do nível dos oceanos que lentamente faz sumir as Ilhas Solomon. Não faltam testemunhas por todas as partes do mundo de que algo está errado com o clima.

E as coisas devem se agravar. Alguns dias antes do inicio da COP16, o secretário-geral de planejamento das Nações Unidas, Robert Orr, disse que o próximo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) será muito pior que anterior. O último relatório do IPCC, de 2007, foi o estopim necessário para que o problema ganhasse dimensão devido às fortes conseqüências do aquecimento global sobre o qual alertavam os mais de 2,5 mil cientistas. “Os negociadores que rumam à Cancun precisam se lembrar que quanto maior o atraso, mais caro iremos pagar em termos de vidas e dinheiro”, afirmou Orr em uma mensagem de pedido por ‘resultados concretos’ na COP 16.

Apesar do ritmo das negociações internacionais estar em descompasso com o necessário para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, o setor empresarial não precisa ficar de braços cruzados aguardando um entendimento. O governo deve sim incentivar uma economia de baixo carbono, mas as empresas podem (e muitas vezes devem) tomar o timão e guiar em busca de melhores ventos. Muitas companhias já perceberam as vastas oportunidades que se escondem por trás dos investimentos em uma cadeia produtiva mais sustentável.

Um exemplo disto é investir em fontes alternativas de geração elétrica. “A terceira revolução é a da energia renovável e virá do sol, dos ventos, do lixo”, afirmou o economista americano Jeremy Rifkin durante uma visita ao Brasil no final de novembro. Rifkin divide hoje seu tempo entre a as aulas na tradicional escola de administração dos EUA Wharton School, e o trabalho de aconselhamento a executivos de grandes corporações e chefes de Estado.

Além da grande emissão vinda dos combustíveis fósseis, dos quais a economia mundial depende hoje, estas são opções esgotáveis e com custo crescente. As fontes renováveis, por outro lado, são inesgotáveis e vem tendo quedas nos preços. Um exemplo do enorme potencial das fontes alternativas vem do sol, uma vez que, teoricamente, três semanas de energia solar recebida na Terra equivale a todas as reservas de combustíveis conhecidas. É energia que não acaba mais!

A energia solar fotovoltaica – aquela que converte a irradiação solar em eletricidade – ainda é mais cara que a convencional. Porém, passos mais consistentes para desenvolver esta tecnologia no Brasil começam a ser dados. Um exemplo vem do sul do Brasil, onde o Instituto Ideal apoia os primeiros projetos de geração fotovoltaica para comercialização da energia no mercado livre com o projeto América do Sol.

Em Florianópolis, a Eletrobras Eletrosul se prepara para ter o primeiro edifício público brasileiro com uma planta solar fotovoltaica integrada a sua edificação e conectada a rede, com o projeto Megawatt Solar. Em Belo Horizonte, a Cemig e o governo de Minas Gerais decidiram solarizar o estádio do Mineirão e pretendem fazê-lo o primeiro estádio da Copa do Mundo 2014 a inaugurar tal sistema de geração elétrica. Em Salvador, a Coelba e o governo da Bahia farão uma instalação inédita de módulos fotovoltaicos de filmes finos no estádio de Pituaçu.

Todos são iniciativas que fazem parte do América do Sol e são desenvolvidos também com o apoio da Universidade Federal de Santa Catarina e do Ministério de Meio Ambiente da Alemanha, através do Banco de Fomento Alemão KfW e da Agência de Cooperação Técnica Alemã GTZ.

Ao criar um mercado para uma nova energia no país, estes projetos pretendem mostrar que está é uma opção energética viável para o Brasil e importante para garantir a segurança energética e a diversificação da nossa matriz, mantendo-a livre de emissões de carbono. Assim, empresas brasileiras que hoje já agem para reduzir seu impacto ambiental terão mais uma opção de compra de energia limpa e altamente inovadora para a nossa realidade.

O percentual de energia fotovoltaica que será consumido por estas empresas ainda será pequeno. O importante, contudo, é o recado que tais companhias passarão para seus consumidores e para o poder público ao investirem na compra da eletricidade solar: “Acreditamos que é possível construir hoje um futuro de baixas emissões de carbono. Por isso, estamos dando um pequeno passo para cumprir com nossa responsabilidade no combate as mudanças climáticas, esperando que em breve o uso da geração descentralizada de energia solar fotovoltaica que hoje estamos apoiando ganhe escala em nosso país”.

*Paula Scheidt é jornalista. Atualmente é assessora técnica da GTZ, atuando no Projeto América do Sol – www.americadosolorgsimuladorcooperativas.online em apoio ao Instituto Ideal

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